8 Sinais de alerta na aquisição da fala
A primeira palavra do bebé gera um êxtase gigante em todos os pais e familiares próximos. No entanto, é também um momento de grande ansiedade. Surgem a toda a hora questões como “Quando é que o nosso bebé irá dizer a primeira palavra?” ou então “Qual será a primeira palavra?”.
Contudo, várias vezes acontece de o bebé completar os primeiros 12 meses de vida e de a primeira palavra não surgir, o que preocupa bastante os pais. E aí surgem outras perguntas: "A partir de quando é que me devo começar a preocupar com a não aquisição da fala do meu bebé?"; "A que sinais é que devo estar atento quando não surgem os primeiros sons, as primeiras palavras?"; "Que estratégias devo utilizar para estimular e usar em casa para facilitar o processo de aprendizagem?"; "Quando é que devo recorrer a um profissional e a qual?".
Como tudo o que diz respeito ao desenvolvimento da criança, a fala também é um processo muito complexo que envolve uma série de outros tantos processos. Não é suposto que uma criança comece logo a falar de forma 100% percetível, com todos os sons que pertencem à palavra, até porque também os sons da fala não são adquiridos todos de uma só vez. Existe o processo da aquisição de competências, em que o importante é que tenhamos atenção se esta competência está a evoluir.
Se com 1 ano a criança ainda não diz absolutamente nada, não produz nenhum som, não comunica com o adulto, entre outros sinais de alerta que iremos falar mais à frente, o melhor será consultar um profissional. Mas qual? Existem pediatras cada vez mais atentos a estas questões, mas ainda há muito poucos pais a procurar em primeira instância o Terapeuta da Fala, que poderá ser um bom meio de diagnóstico e de possíveis encaminhamentos (caso faça sentido). Por vezes, pode ser só necessário o uso de algumas estratégias, mas para avaliar esta necessidade ou outras mais prementes, será necessária toda uma avaliação global do bebé, desde a avaliação do desenvolvimento motor, do sistema cognitivo, da comunicação, da alimentação, entre outras áreas fundamentais.
Sinais de alerta
1. Não estabelece contacto ocular: se a criança não olha para nós, algo está errado! O contacto ocular ajuda na formação dos laços afetivos e desempenha um papel essencial desde o início dos processos comunicativos. Sem contacto visual, não há atenção conjunta (partilha de um foco de atenção com o adulto), e sem atenção conjunta não há comunicação!
2. Não reage à estimulação sonora e a sons familiares: sons como a voz da mãe, a campainha, o telefone, o animal de estimação, entre outros, deve ser sempre algo que o seu bebé deve reagir. Se não há reação, é porque o bebé pode não estar a ouvir ou então não sabe como reagir aos mesmos.
3. Não sorri: o sorriso é uma das primeiras formas de comunicação entre os pais e o bebé antes do aparecimento da linguagem. Os bebés sorriem em resposta a sensações prazerosas a partir do primeiro mês de idade e, entre os 2-4 meses, o bebé desenvolve sorrisos específicos para interagir com os seus pais.
4. Não reage ao nome: aos 4 meses o bebé já reage ao próprio nome, devido à frequência com que ouve os adultos a pronunciarem-no. Quando existe reação, significa que o bebé está a começar a processar os sons e as características dos sons da fala. Se isto não acontecer, pode significar défices da audição, do desenvolvimento da linguagem ou até mesmo alterações cognitivas e/ou neurológicas.
5. Não interage/reage às brincadeiras com o adulto: quando o bebé não se interessa por jogos educativos, brinquedos didáticos ou brinquedos que fazem barulho, pode estar com dificuldade em ouvi-los. Ainda assim, quando está a brincar com a criança e ela não reage, fica apática ou até foge, pode também significar alterações de comunicação.
6. Não produz ou repete sons: os típicos gritos e gemidos, é algo fundamental para as primeiras palavras surgirem. Quando o balbucio (fase anterior à fase linguística, em que a criança emite sons sem significado) não acontece, algo pode estar a impedir: pouca estimulação, dificuldades de processamento fonológico e/ou auditivo, alterações neurológicas, entre outros.
7. Deixa de produzir sons que já reproduzia: se o bebé já produzia sons e deixou de os produzir, quer espontaneamente, quer por repetição, algo pode estar errado.
8. Faz frequentemente birras, sem causa aparente: a birra é um comportamento normal que faz parte da idade e uma forma de expressão para quando a criança não sabe reagir de forma madura em relação a uma frustração ou a algo que é impedida. Quando as birras se tornam desproporcionais e agressivas face às situações, pode ser um sinal de que a criança não está a saber responder e comunicar face às "exigências" que lhe são impostas.
Por isso, se é pai, mãe, educador, ama, pediatra, terapeuta, ou alguém intrinsecamente envolvido na vida de uma criança, esteja atento a estes sinais e procure apoio junto de um Terapeuta da Fala, caso seja necessário.
Fonte:
Mariana Dias
Licenciada em Terapia da Fala, Escola Superior de Saúde - P.Porto.
Adora a sua profissão, qualquer que seja o público alvo: bebés, crianças, jovens e adultos. Uma das grandes paixões é investir na sua formação para vir a ser cada vez melhor profissional.
O seu objetivo, enquanto Terapeuta da Fala e ser humano, é sobretudo adaptar a sua intervenção com base nas necessidades mais prementes das pessoas, contribuindo para a máxima qualidade de vida no dia-a-dia das mesmas.